O texto a seguir, contêm um estratosférico número de SPOILERS.
O episódio começa com um "alerta", nos informando que a estória relatada ali era inspirada em casos reais documentados. Para quem se interessa por assuntos pseudo-científicos, isso não seria novidade, mas para a maior parcela dos telespectadores de primeira viagem da época, esse "aviso" poderia lhes chamar ainda mais a atenção para a trama. Com isso, Chris Carter já começa acertando logo nos primeiros segundos da série, algo difícil em termos históricos na TV mundial. Somos então engolidos por uma sombria floresta nas redondezas da cidade de Bellefleur, no Oregon, na qual uma jovem corre desesperadamente fugindo de alguém que aparenta ter saído de uma misteriosa luz. Acerto novamente com a rápida apresentação de um caso. Após o fim trágico da jovem, tomamos conhecimento de que o acontecimento já ocorreu antes com outros jovens locais, e desperta impaciência na força policial local, principalmente no Detetive Miles (Leon Russom). A forma rápida e certeira de apresentar um mistério, com a belíssima trilha sonora de Mark Snow (algo fundamental no decorrer da série), é mais um acerto na conta de Carter.
Após montar o tabuleiro, é hora de apresentar as peças, e a primeira delas, é a Agente Especial Dana Scully (Gillian Anderson), se dirigindo para o Quartel General do FBI, em Washington. Gillian era uma atriz praticamente desconhecida do grande público, mas que conquistou o coração de Carter, e o fez lutar por ela no papel, já que a Fox pretendia contratar uma atriz "mais chamativa" para atrair a audiência (masculina, como uma boa seguidora de conceitos ultrapassados). Em seus primeiros momentos em cena, Gillian deixa claro por qual motivo ela mereceu o papel. Ela foi convocada à Capital para uma reunião com o Chefe de Divisão Scott Blevis (Charles Cioffi), que a deixa ciente de que foi designada para o Departamento X (ou para os mais descolados do Bureau, "Arquivo X"), na expectativa de que ela escrevesse relatórios com bases científicas validando as investigações do Departamento, fazendo com que fosse decidido se era válido ou não manter essa parte "diferente" dentro das instalações do Bureau. Scully revela ter conhecimento das atividades X, mas como toda a maioria (pelo menos oficialmente falando) demonstra não dar tanta credibilidade, e também diz conhecer o Agente responsável pelo Departamento por seu apelido, nada amigavel de "spooky". Enquanto a reunião prossegue, Scully e Blevis estão acompanhados de um estranho homem que fuma incansavelmente seu cigarro, e demonstra uma certa preocupação com a situação. Num primeiro momento, não fazemos ideia de quem ele seja e qual o seu papel dentro do Bureau, mas o Smoking Man (William B. Davis) acabaria se tornando o antagonista da trama.
Scully então se dirige para o porão do Quartel General, onde fica (intencionalmente escondido, talvez?) o Departamento X, e lá conhece pessoalmente o Agente Especial Fox Mulder (David Duchovny) em plena atividade. Seja pela interpretação dos atores, seja pelos fortes personagens criados por Carter ou acabe não sendo por nada disso, mas a química entre Gillian e David é instantânea, e isso é perceptível (quase gritante) para qualquer um. Após Mulder revelar ter feito uma boa pesquisa sobre a sua nova colega de trabalho, e deixar claro que sabe por qual motivo ela está ali, a deixa ciente do caso no qual está trabalhando.
Ele pede a opinião de Scully sobre algumas misteriosas marcas encontradas no corpo da jovem morta no começo do episódio, e ela se mostra confusa com a substância química encontrada nas tais marcas. Mulder então diz ter algumas teorias sobre o caso, e elas envolvem uma simples pergunta; "você acredita na existência de extraterrestres?". Como uma boa cética, Scully dá uma resposta logica, na tentativa de apagar a visível animação de Mulder, mas ela não desconfiava o quão difícil isso seria...
Eles então partem para Bellefleur para investigarem melhor o caso, contudo, no caminho, o avião sofre uma suspeita turbulência. Mulder parece satisfeito que suas teorias estão começando a serem clareadas. Na estrada em direção ao cemitério, onde fariam uma exumação do corpo de uma das vítimas anteriores, o rádio sofre uma forte interferência, chamando a atenção de Mulder, e o fazendo descer e pichar um grande "X" na estrada, para demarcar o marco zero do estranho acontecimento. Scully assiste a tudo com o ar de incompreensão.
No cemitério, após serem interrompidos por Jay Nemman (Cliff DeYoung) legista local, e sua filha, Theresa Nemman (Sarah Koskoff), os Agentes ficam perplexos com o corpo de um suposto alienígena na cova. Eles então partem para realizar uma exumação detalhada, e a animação de Mulder é novamente enorme. Já Scully, pretende encontrar alguma resposta mais "terrena", mesmo extraindo um implante metálico do corpo. Enquanto escreve seu relatório para o Bureau, Scully é atrapalhada por Mulder batendo a porta, que em resposta a pergunta da Agente, responde ser "Steven Spielberg", uma ótima piada que faz todo o sentido na trama. Os dois se dirigem até o hospital psiquiátrico onde o médico Glass (Malcolm Stewart) era o responsável pelo tratamento da vítima anterior, e que agora supervisiona a terapia de outros dois jovens que eram da mesma classe dos demais mortos. Billy Miles (Zachary Ansley) está em um estado vegetativo após sofrer um acidente de carro com sua namorada, Peggy O'Dell (Katya Gardener) que insiste em ficar ao lado de sua cama o protegendo. Após a garota se descontrolar, os Agentes percebem que ela também possui as estranhas marcas encontradas no corpo da jovem morta no início do episódio, o que deixa Scully confusa. É neste momento, em que ela diz necessitar saber da "verdade" do que está acontecendo. A palavra "verdade" (ou "truth" em inglês) é dita de forma simples, mas que se provaria ser um dos principais fatores de toda a série.
Determinados a investigarem o local onde os jovens tiveram um suposto contato com alguma entidade, Mulder e Scully vão até a floresta nos arredores da cidade. Nesta cena, temos feixes de lanternas, uma locação desolada e sombria, alguém os espreitando e uma trilha sonora misteriosa, todos pilares fundamentais no qual a série foi construída no decorrer dos anos. Eles são expulsos da floresta pelo Detetive Miles, alegando que o local é uma propriedade particular. Sem questionarem por qual motivo o Detetive estaria ali em plena noite, eles voltam para o seu hotel. No caminho, são surpreendidos por uma cegante luz branca, fazendo com que o motor do carro de Mulder morresse. O Agente surpreso, mas novamente animado com o ocorrido, sai do carro procurando por algo no chão, e acaba encontrando o grande "X" que ele havia pichado na estrada um pouco mais cedo. Para a incredulidade de Scully, que começa a perceber que algumas coisas que seu colega diz, fazem sentido.
De volta ao hotel, a energia é cortada pela forte tempestade que atinge a região, e os Agentes são abrigados a utilizarem velas. Se despindo para tomar banho, Scully percebe que possui algumas estranhas marcas nas costas, e entrando em desespero, corre para o quarto de Mulder. Após ser reconfortada de que as marcas não passam de picadas de mosquitos provenientes de sua recente aventura na mata, ela e Mulder resolvem conversar enquanto a eletricidade não volta. Mulder então conta a Scully sobre o motivo pelo qual se interessou em fazer parte do FBI e sua excitação ao descobrir o Departamento X, tudo tendo início com a suposta abdução de sua irmã Samantha, quando os dois eram crianças. Mulder revela que o Governo americano têm conhecimento das abduções no país, e que não toma atitude alguma. A complexa trama de conspiração foi também um dos pilares da trama, que seria melhor desenvolvida nos futuros episódios taxados como "mitológicos". Os Agentes recebem uma ligação informando-os de que Peggy O'Dell foi morta em uma estrada, no exato momento em que eles perderam alguns minutos de tempo após o clarão de luz. As coisas pioram quando retornam ao hotel, e o encontram em chamas, intencionalmente causadas para ocultar as provas até então coletadas. Theresa Nemman os contata e diz também é uma das pessoas que possuem as estranhas marcas e pede proteção, já que teme por sua vida. Mulder então começa a entender quem é o responsável pelas mortes, Billy Miles, o garoto em coma.
Voltando ao hospital psiquiátrico, descobrem que os pés do rapaz estão sujos de uma espécie de fuligem, a mesma encontrada nas matas em que as mortes acontecem, provando que de alguma forma, ele esteja envolvido no ocorrido.
Os Agentes concordam em retornar ao lugar, chegando bem a tempo de presenciarem um novo rapto por alguma entidade. O Detetive Miles, pai de Billy, sabe que seu filho é uma espécie de canal para as abduções, e pretende manter Mulder e Scully afastados o máximo possível dele enquanto o rapaz rapta Theresa. Após um novo feixe cegante de luz, Mulder percebe que algo deu errado no processo de abdução, fazendo com que Billy e Theresa permaneçam na clareira da floresta. Aparentemente os alienígenas resolveram acabar com o projeto na região, e/ou que o excesso de testemunhas no local; o pai de Billy, Mulder e Scully tenham atrapalhado os planos. É interessante notar, que as experiências envolvendo a criação dos Supersoldados (apresentada na oitava temporada) já estava em andamento desde 1993, tendo demorado para atingir o exito esperado. Na Sede do FBI, Billy relata todo o ocorrido desde o contato inicial com os alienígenas, e seu depoimento é acompanhado de inúmeras pessoas incrédulas sobre suas declarações (com exceção de Mulder e o Smoking Man, que novamente aparenta estar preocupado com algo). Scully é chamada pelo Chefe Blevins para reportar suas conclusões sobre o caso, mas relata não ter uma resposta definitiva e oficial sobre as investigações da dupla. Contudo, ela entrega o implante metálico que havia retirado de uma das vítimas, causando um certo desconforto nas autoridades presentes na sala. O episódio acaba com o misterioso Smoking Man percorrendo uma enorme instalação apinhada de estantes com diversos artefatos, guardando então o implante junto com diversos outros. É revelado que a instalação fica no Pentágono, fazendo com que as afirmações de Mulder sobre uma enorme conspiração enraizada no Governo comecem a fazer o maior sentido do mundo.
O episódio piloto da série é exatamente o que qualquer outro inicial deve ser; consegue apresentar seus personagens de forma séria, e faz com que os telespectadores se envolvam com a trama. Mesmo aparentando ser bem inferior em qualidade técnica com o restante da série, o piloto de The X-Files se mostrou um enorme avanço para a época, e conseguiu não se tornar datado, mesmo após mais de 20 anos de sua exibição original. A direção de Robert Mandel, embora básica, é auxiliada principalmente pelas atuações dos protagonistas. Estava definitivamente plantada a semente que explodiria na cultura mundial no decorrer dos anos 90, e que até hoje, mantêm firme a sua marca no imaginário popular.
NOTA
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Episódio exibido originalmente em 10 de setembro de 1993, pela Fox.
Dirigido por Robert Mandel.
Escrito por Chris Carter.
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